A internet, o meio de comunicação global que define nosso tempo, é agora uma ferramenta a instigar esse sentimento angustiante, a inveja. Não é difícil entender porque é assim. Só é possível invejar aquilo que se vê ou conhece e a web multiplicou o que se pode saber sobre a vida alheia.
Um estudo realizado pela Universidade Humboldt em conjunto com a Universidade Técnica de Darmstadt, ambas na Alemanha, publicado na semana passada, é a primeira tentativa de medir cientificamente a intensidade dessa emoção na internet. A conclusão é espantosa: uma em cada cinco pessoas ouvidas na pesquisa aponta o Facebook como a origem da sua experiência de inveja. Um bilhão de pessoas, um sétimo da população mundial, participam dessa rede social.
O que fazem nela, basicamente, é colocar fotos, contar detalhes pessoais ou simplesmente fofocar. Sabe-se, pelas pesquisas, que parte considerável desses usuários mantém uma atitude passiva no Facebook. Apesar de passarem muito tempo on-line, limitam-se a seguir o que é postado por amigos que parecem ser mais felizes e saber aproveitar melhor a vida. Nesse cenário, eles se sentem solitários, excluídos do ciclo de atividade, felicidade e camaradagem on-line de outras pessoas. É nesse caldo de cultura que nasce a gama de emoções angustiantes dissecadas pelos pesquisadores alemães.
O levantamento, feito com 584 usuários assíduos do Facebook, constatou que um em cada três deles se declara frustrado e triste imediatamente após se desconectar da rede. Para três em cada dez, o principal motivo do desgosto é a sensação de que os amigos on-line levam uma vida melhor que a sua. No ranking elaborado pelo estudo, a inveja é o sentimento mais frequente associado à frustração no Facebook. Em segundo lugar, atingindo 19% dos entrevistados, vem a sensação de que sua publicação não recebem atenção. Em seguida, com 10% está a solidão.
A infelicidade virtual nasce, muitas vezes, de uma percepção exagerada da felicidade alheia e da própria infelicidade. "Os usuários do Facebook tendem a selecionar e exibir na rede apenas o melhor de sua vida", diz Hanna Krasnova. "Quem se sente inferiorizado não percebe que o que vê não é a vida real do outro e, sim, apenas uma versão editada dos seus melhores momentos." No ano passado, período em que estudou mola em Milão, a pernambucana Laíse Nogueira, de 24 anos, postava fotos nas quais aparecia sorridente ao lado de colegas. "Só que o sorriso não refletia minha real situação", conta Laíse. "Estava triste e me sentia solitária vendo as fotos de meus amigos se divertindo no Brasil" Os amigos brasileiros, que não sabiam disso, invejavam sua vida na Itália. É o caso típico de o gramado do vizinho ser mais verde.
Apesar de ser estigmatizada como um dos sete pecados mortais, a inveja não é um sentimento absolutamente perverso. Ao contrário, desejar o que já foi alcançado por outra pessoa pode servir de inventivo para melhorar a própria vida. Mas também por ser o inferno em vida, pois fomenta o rancor e a angústia.
Muitos solitários recorrem ao Facebook, permanecem muito tempo on-line, mas interagem pouco com os amigos virtuais. O que veem na rede social são pessoas em festas e viagens. Isso faz com que se sintam ainda mais excluídos. A frustração os deixa desmotivados a sair de casa e os prende ainda mais ao Facebook. É o ciclo da rede da inveja.
O QUE PROVOCA MAUS SENTIMENTOS
1 - Viagem e momentos de lazer
Uma foto diante do Coliseu ou um comentário sobre bons momentos passados em Paris atraem o olho gordo.
2 - A fama virtual
Alguém com poucos amigos pode se incomodar com publicações alheias que repercutem mais "curtidas" e comentários.
3 - Felicidade alheia
Muitas pessoas se mordem quando veem amigos sorrindo em fotos ou recebendo muitas mensagens de "parabéns" no dia do aniversário.
4 - O sucesso
Quem é bem-sucedido na carreira, nos estudos ou em esportes pode provocar a sensação de fracasso em outras pessoas.
5 - Sorte no amor
Mudar o status no perfil do Facebook de "solteiro" para "em um relacionamento sério" e publicar fotos com cônjuge e filhos.
Fonte: Revista Veja
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